Em uma conversa com uma garotinha, senti-me desafiada a fazer uma pesquisa mais profunda para descobrir porque irmãos brigam tanto.
Assunto inesgotável! Uma enorme variedade de artigos, de estudos de psiquiatras, psicólogos, sociólogos, de dicas para evitar brigas, para separar crianças na hora da encrenca… E não sou especialista, como sabem. Sou mãe, xereta e curiosa…
Fiquei encantada com certas coisas e pincelei algumas delas que, talvez, interessem também a você.
Algo certo para a ciência é que nascemos com características pessoais, temperamentos, traços que vem com a gente da barriga da mãe, nossos genes. Porém, aliado ao que trazemos, são nossos pares, as pessoas que vivem conosco, nossos pais, irmãos, o ambiente onde vivemos, que vão formar quem vamos ser quando adultos.
A partir do momento que nascemos, nossos irmãos e irmãs são nossos colaboradores e inspiradores, nossos modelos. Eles nos repreendem, protegem, torturam, aconselham, são fonte de inveja, objetos de orgulho. Mostram-nos como lidar com um conflito, por vezes, são o conflito! Eles nos ensinam a fazer amizades ou a nos afastar delas. Revelam-nos os mistérios sobre meninas e meninos. Os maridos/esposas chegam mais tarde em nossas vidas; nossos pais, eventualmente, vão nos deixar. “Irmãos” diz a socióloga de família Katherine Conger, da Universidade da Califórnia, Davis, “estão conosco por toda a viagem, são parceiros para a vida”.
Ao longo das últimas décadas de pesquisa, os cientistas se debruçaram sobre os esteriótipos: a ordem do nascimento, as crises do irmão mais velho, a rebeldia do mais novo ou a busca de identidade do filho do meio. Os estudos sempre estavam centrados no indivíduo em relação ao irmão ou aos pais.
Porém, recentemente, diversos centros de estudos no Canadá, Europa e Estados Unidos têm dedicado esforços para entender a dinâmica do relacionamento entre os irmãos. A atenção tem se dirigido à riqueza que estes relacionamentos proporcionam aos indivíduos, como eles oferecem proteção para comportamentos de risco dentro das famílias, educam sobre o sexo oposto, promovem crescimento quando competem em situações de favoritismo, cobrança ou golpes vindos dos pais.
Destas pesquisas, os cientistas têm percebido com maior a clareza construção das personalidades e de como se formam os adultos.
Laurie Kramer, professor de estudos da família na Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, descobriu que, em média, irmãos entre 3 e 7 anos de idade se envolvem em algum tipo de conflito 3,5 vezes por hora. Crianças menores de 2 se envolvem em 4 a 6,3 (ou mais) de um confronto a cada 10 minutos, de acordo com um estudo canadense. Haja motivo para brigar, hein?!
E brigar é bom? Pode não ser bom, mas faz bem. Estranho? Pois é. Há muito que se aprender sobre os conflitos, que uma vez iniciados, podem e devem ser resolvidos.
Os relacionamentos entre irmãos são um ensaio para a vida adulta. E nossa vida adulta, está praticamente toda pautada em nossos relacionamentos sociais: o local de trabalho, o casamento, a igreja, os serviços prestados no comércio. Com nossos irmãos podemos estar de mau humor, voltar para casa e dividir o mesmo quarto e os brinquedos. Mais tarde, compartilhamos os pensamentos ou uma provocação só para ganhar um sorriso.
É neste mesmo lugar que aprendemos a lidar com o mau humor dos colegas do trabalho, a rir com o cônjuge nos momentos de crise, a levar numa boa o péssimo atendimento do comerciante. “Os relacionamentos entre irmãos são o lugar onde você aprende basicamente tudo isso” diz a psicóloga de desenvolvimento Susan McHale da Penn State University “Eles são relacionamento entre iguais”.
Elas brigam porque estão crescendo, argumentado, fazendo valer o que querem. Brigam porque tem razão para brigar e porque não tem razão também. Brigam porque não sabem que existe outro jeito, não são adultos, estão aprendendo a ser.
Nós, os supostamente adultos, precisamos entender que a briga e o conflito são um meio e não um fim. A discussão em si não é o objetivo, devemos interferir, como elementos neutros, talvez conversar sobre o assunto na hora da ebulição não seja a melhor das idéias. Assim como gostaríamos que fizessem conosco, quando os ânimos se acalmarem, conversar sobre o motivo da briga e insistir na aliança de amor para a vida que existe entre os irmãos, é importante para o próximo embate que, com certeza, virá mais tarde.
Brigar para separar uma briga não faz sentido. Fazê-lo aos berros… menos ainda.
São inúmeras as soluções e dicas sobre as brigas em casa. Mas hoje, esta não é a nossa conversa.
Com a idade, os conflitos, quando trabalhados devidamente, tendem a desaparecer. Mesmo os mais terríveis e briguentos dos irmãos, com o tempo, podem tornar-se próximos e tornar-se adultos emocionalmente qualificados para a vida, recordando seus combates de anos atrás e das lições que aprenderam com eles.
As crises da infância podem estabelecer profundos laços entre os irmãos, como exemplo, doença ou morte dos pais. Principalmente quando os irmãos bem mais velhos precisam assumir o papel de protetores dos mais novos.
Judy Dunn, psicólogo do desenvolvimento do Kings College de Londres disse “As experiências compartilhadas na primeira infância são de grande influência para os relacionamentos de agora. Elas lançam uma grande sombra sobre todos nós.”
Os irmãos são um feliz brainstorm criado por Deus, e a cada dia a ciência descobre mais e mais, que nossos relacionamentos da infância nos fazem quem somos hoje. Neste mundo enorme, individualista e cada vez mais assustador, nós, que temos o privilégio de ter irmãos, podemos constatar que não há nada como ter vários deles, e que venham as tão necessárias brigas!
SqNS
Setembro/2016